A cooperativa Grande Sertão é uma organização que atua claramente a partir de três dimensões: a social, a econômica e a ambiental. É fruto do processo das lutas sociais, formada a partir da articulação do movimentos sociais, sindical, religioso e, em especial, do apoio e assessoria do Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas (CAA/NM), que atua na região desde meados da década de 1980. A Grande Sertão surgiu com o propósito de assegurar a inserção no mercado dos produtos agroextrativistas, por meio do domínio das diferentes etapas da coleta, do processamento e da comercialização, sobretudo, através da produção das polpas congeladas de frutas. Essa estratégia de inserção no mercado visava criar, também, uma oportunidade para dar visibilidade a riqueza do Cerrado e da Caatinga.
Segundo Cordeiro (2007, p.73) esse processo de ingresso no mercado formal, começou, em 1994, “quando foram comercializados 500 quilos de polpa de 4 espécies de frutas para a Escola Normal e o Hospital São Lucas, ambos na cidade de Montes Claros”. Nesse período contaram com apoio externo, via o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), para a implantação de uma unidade de beneficiamento (CARVALHO, 2007, p.73). Ao longo dos próximos anos, contaram com outros apoios, o que permitiu experimentar e amadurecer sobre o melhor desenho institucional (associação, cooperativa ou microempresa), que melhor responderia a sua realidade. Em 2003, criaram a cooperativa Grande Sertão, que iniciou com 30 sócios e, hoje, conta com cerca de 170 famílias associadas, distribuídos em 5 núcleos territoriais (Gerais da Serra, Serra Geral, Baixada San Franciscana, Alto Rio Pardo e Planalto).
No processo de coleta e processamento das frutas, a cooperativa trabalha com produtos oriundos dos sócios e de não sócios, em função da complexidade da coleta para formar grandes volumes, por se tratar de produtos extrativistas. A cada safra se faz necessário estabelecer o cronograma de viagens para cada rota de coleta, em função dos volumes disponíveis, em cada comunidade, estabelecendo o tipo de veículo a ser utilizado. Infelizmente, nem sempre é possível dispor do veículo mais adequado, em função da frota disponível ser pequena e não disporem, muitas vezes, de motoristas suficiente para essa tarefa, durante o período de safra, o que pode contribuir para aumentar os custos de coleta, com possível redução da margem de comercialização. Ainda, é recomendável que o produto apresente uma certa uniformidade, em relação ao ponto de maturação das frutas. Após a colheita importante observar o tempo decorrido, entre a coleta e o processamento desses frutos, sabendo que essa recomendação é variável, em função das características de cada espécie. Todos esses cuidados são essenciais para assegurar a qualidade do produto final, o que demonstra o nível de complexidade exigido da equipe da cooperativa no processo de gestão.
A Grande Sertão possui uma unidade de beneficiamento, relativamente próximo a Montes Claros, situada na área de Experimentação e Formação em agroecologia (AEFA) do CAA. A armazenagem se concentra na unidade de Montes Claros, junto a sede da cooperativa, no Distrito Industrial. Existe outra unidade, em Porteirinha, que não está operando e que tem a gestão a cargo do Sindicato de Trabalhadores Rurais (STR), deste Município, além de algumas unidades comunitárias de pequeno porte, localizadas em nível das comunidades. Ainda, no assentamento Americana está sendo construída outra unidade de beneficiamento, que poderá contribuir para otimizar o processamento das frutas nessa microrregião. Por fim, junto a unidade do Distrito Industrial, em Montes Claros, encontra-se, também, a unidade de processamento de óleo.
A Grande Sertão tem demonstrado ao longo da sua trajetória a capacidade de se relacionar em rede, a partir da articulação com o CAA, os sindicatos de trabalhadores e trabalhadoras rurais dessa região, a participação na Central do Cerrado. Contribui, ainda, com a liberação de tempo parcial do Presidente da Grande Sertão, Aparecido Alves de Souza (Cido), para exercer a coordenação regional da União Nacional das Cooperativas de Agricultura Familiar e Economia Solidária (UNICAFES/Minas Gerais) e, por consequência, participar das reuniões da Unicafes Brasil. Cido, também, é um dos articuladores da Cooperativa Sem Fronteiras, no Brasil. Todo esse envolvimento certamente diminui a sua disponibilidade para acompanhar o dia a dia da Grande Sertão. Por outro lado, a ocupação desses espaços contribui para maior projeção e inserção da cooperativa Grande Sertão nos processos políticos, em nível regional e nacional, relativos ao cooperativismo e ao fortalecimento da agricultura familiar e camponesa no Brasil.
A cooperativa tem participado, ainda, a convite da HEKS, em missões de cooperação internacional, em países da América Central, como Honduras, Nicarágua e Guatemala. Especificamente, em Honduras, em cooperação com HEKS Honduras e Asociación de Desarrollo Pespirense (Adepes), neste ano de 2015, a cooperativa disponibilizou seu assessor técnico, em processamento de frutas, para realizar uma missão de 15 dias. Nessa oportunidade foi realizado um intercâmbio para capacitação da equipe técnica da Adepes, tendo em vista a implantação da sua unidade de processamento de polpa, prevista para o segundo semestre de 2015, em Pespire, Honduras.
Ainda, a Grande Sertão dialoga em diferentes níveis das instâncias governamentais, com vistas a fortalecer sua estratégia de processamento e comercialização das frutas do Cerrado e Caatinga.